Resenha: A prova de fogo pop de Ellie Goulding em 'Delirium'



Desde que relançou ‘Halcyon’ com algumas faixas novas em 2012, Ellie Goulding deixou claro que mais cedo ou mais tarde se aventuraria de verdade no mundo pop. Apesar de já ter rompido a barreira do alternativo e mergulhado no mainstream com o hit “Lights” em 2011, a inglesa ainda precisava de um arrasa quarteirão para chamar de seu no mundo da música. Seria esse trabalho ‘Delirium’, o terceiro disco de sua carreira? É o que estarei tentando responder nos próximos parágrafos.

Observar a discografia de Goulding é uma coisa interessante de se fazer. De 2010 até agora, a loira passou pelo indie / folk, flertou pontualmente com a eletrônica, tratou de temas obscuros e chegou no pop. Aliás, dizer que ela só chegou ao pop agora seria minimizar o trabalho da artista. Composições radiofônicas sempre estiveram presentes em seus álbuns, mas nunca com tanta ênfase como agora.

Em entrevista recente, Ellie afirmou que gostaria de criar um grande disco pop como um experimento. Consciente de sua decisão, a artista apresenta a todos composições como “On My Mind” e “Something In The Way You Move” para criar uma primeira impressão sobre ‘Delirium’.


A produção do trabalho ficou a cargo de alguns dos nomes mais cobiçados na indústria pop. Greg Kurstin (Lily Allen, Rita Ora), Ryan Tedder (Maroon 5, Gwen Stefani, Ariana Grande) e Max Martin (Britney Spears, Katy Perry, P!nk) foram alguns dos responsáveis pelas letras e arranjos do atual disco de Goulding, o que nos leva à instrumentações pegajosas (“Keep On Dancin’”), baladas melancólicas (“Love Me Like You Do”, “Scream It Out”), composições um tanto genéricas (“Army”, “Lost and Found”), faixas prontas para a pista de dança (“Aftertaste”, “On My Mind”), entre muitas outras armas que um disco altamente comercial precisa ter.

O trabalho começa potente, com a dobradinha formada por “Intro (Delirium)” e “Aftertaste”, mas começa a perder um pouco do fôlego já na terceira faixa, “Something In The Way You Move”. Daí em diante, ‘Delirium’ torna-se uma montanha-russa de incertezas, possuindo acertos pop como o primeiro single do registro, a chiclete “On My Mind” e momentos não tão inspirados assim, como “Holding On For Life”, que soa como uma canção perdida de Demi Lovato.


Uma das canções mais curiosas encontradas no registro é a curtinha “I Do What I Love”, com sua sonoridade baseada em percussão, Ellie emulando uma espécie de rap e seus (muitos) palavrões. Rihanna ficaria orgulhosa do resultado aqui.

As grandes surpresas do trabalho ficam a cargo de “Devotion” e “Paradise”, a primeira presente na tracklist oficial e a segunda apenas na edição deluxe do disco. “Devotion” soa como uma curiosa mistura entre “Your Biggest Mistake”, presente em ‘Lights’ e “Till the World Ends”, de Britney Spears, unindo interessantes violões acústicos à beats genéricos. Já “Paradise”, composta por Goulding em parceria com Joel Little (Lorde, Broods), é um respiro poderoso no meio de um amontoado de faixas extremamente parecidas entre si, com sua instrumentação crescente e a melhor performance vocal da inglesa dentro do atual registro.


O álbum conta com 22 faixas em sua versão deluxe (25 se contarmos com a versão disponibilizada pela Target, que traz "Powerful", a parceria com o Major Lazer, além de "Let It Die" e "Two Years Ago" na tracklist), o que certamente é um número muito grande ao se tratar do pop, gênero que atualmente é caracterizado por produções rápidas e descartáveis. É compreensível ‘Halcyon’ e ‘Lights’ possuírem versões extensas por serem discos diversificados, mas no atual momento que a música vive, cada vez mais efêmera, lançar um trabalho com quase uma hora e vinte minutos de duração pode ser uma aposta perigosa.



‘Delirium’ não chega a ser ruim, embora esteja abaixo dos trabalhos outrora produzidos por Ellie. Certamente o terceiro disco da inglesa tocará muitas vezes em playlists ao redor do globo, bem como em rádios tanto alternativas – em parte pelo respeito que possuem pela carreira da artista – quanto mais populares, ao lado de nomes como Katy Perry, Rihanna e Beyoncé. A grande virtude presente no álbum são os vocais inconfundíveis de Goulding, que garantem ao registro acertos interessantes e melhores que boa parte das canções pop produzidas atualmente, ainda que peque por trazer em sua tracklist faixas dispensáveis que cumprem o propósito de apenas dar volume ao álbum – coisa que sabemos não ser necessária, já que as vezes, menos é mais.


Ouça: “Aftertaste”, “On My Mind”, “Devotion”, “Paradise”

 NOTA: 7/10 

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