[Radar] Conheça Zolita e seu desafiador universo multimídia
Trabalhar em um blog sobre música permite a descoberta constante de artistas com grande potencial criativo. Enquanto alguns nomes soam um tanto genéricos e simples, outros apresentam conceitos bem elaborados e fortes para as suas produções. Esse é o caso da californiana Zoë Hoetzel, mais conhecida como Zolita, com seu R&B sedutor e poderoso.
Enquanto vagava pelas terras férteis do YouTube, deparei-me com o som da norte-americana através da faixa “Explosion”. Dona de uma sonoridade que mescla elementos de R&B e eletrônica junto à vocais sensuais, próximo do que nomes como Sevdaliza, Beyoncé, FKA twigs e Banks fazem em seus projetos, Zolita prende por não soar apenas como mais uma artista da famigerada cena alternativa dos Estados Unidos, apresentando elementos que dão destaque ao seu trabalho.
A artista teve contato com a música muito cedo. Desde os 7 anos de idade, Hoetzel foi ensinada pelo pai a tocar guitarra, além de ser apresentada a gêneros tradicionais como o bluegrass. Chegando à adolescência, Zolita descobriu novos estilos e sonoridades, além do cinema. Em entrevista, a norte-americana relata que sua infância foi marcada por uma quebra dos papeis de gênero em casa, não sendo criada para acreditar nos limites que a sociedade impõe às mulheres. Já na escola, o choque causado pelo modo como as garotas se comportavam submissivamente ante aos garotos fez com que Zoë visse a necessidade de se posicionar sobre a questão, através da música, vídeo e fotografia.
Já ciente de sua natureza como artista multimídia, Zolita começou a desenvolver seus projetos de forma mais ampla, ao se mudar para Nova Iorque. A artista que até agora produzia canções essencialmente pop, se depara com uma nova mudança de estilo, amadurecendo mais uma vez o seu som ao criar composições refinadas e baseadas em R&B e em uma eletrônica densa. Uma decepção amorosa ao se apaixonar por seu melhor amigo foi o gatilho perfeito para iniciar a criação do EP de estreia, além do seu principal single, “Explosion”. Segundo ela, escrever é catártico, sendo a única forma que encontrou para lidar com o tema, além do fato de um amor não correspondido ser uma experiência pela qual praticamente todos já passaram e podem se identificar.
‘Immaculate Conception’ vive na interseção entre o feminismo e a fluidez sexual. O disco possui capa e titulo mergulhados em símbolos religiosos, usados pela artista de forma ampla, já que a iconografia religiosa é uma parte importante do estilo adotado no projeto. Outro fato que justifica a escolha de tal imagem para ilustrar o trabalho de estreia é a transposição e apropriação de imagens pertencentes à uma entidade reconhecida por, entre outras coisas, limitar o poder das mulheres em relação à seus corpos e suas escolhas, como forma de lutar contra isso. Ênfase ainda para as letras do compacto, sobre luxúria em um contexto divino (“Holy”) e amor visto pelo seu lado mais sombrio (“Hurt Me Harder”, “Drug Me Now”).
Atualmente, Zolita cursa cinema em Nova Iorque e continua criando produções visuais para suas músicas, algo que a artista afirma ser impossível pensar de forma individual, por uma coisa levar a outra. Concluindo seu posicionamento sobre ‘Immaculate Conception’, a produtora declara que sua intenção é “desafiar os rótulos e noções pré-concebidas através de todos os meios que puder explorar.” Ela afirma ainda que “quer desafiar as ideias que as pessoas têm de feminilidade, sexualidade e espiritualidade” através de sua obra.
Saiba mais sobre Zolita curtindo sua página no Facebook, ouvindo suas faixas no Spotify e seguindo a artista no Instagram.